sábado, 25 de setembro de 2010

Tenho saudades do Fado...

Lembro-me de ter ai uns 7 anos e de ir sentada no segundo banco traseiro da carrinha peugeot 504 do meu pai, a cantar "Cavalo Russo" do Nuno da Camara Pereira. Toda a gente parecia gostar de me ouvir porque a cada festarola, a mae la pedia... "Oh filha, canta aquela..." e toda a gente aplaudia sorrindo no fim do espectáculo.

Entretanto cresci e conforme fui crescendo, os pedidos foram sendo menos frequentes. Percebi mais tarde que as pessoas nao gostavam assim tanto de me ouvir cantar; achavam sobretudo graça ao facto de uma pequena de 7 anos desbobinar Fados atras uns dos outros!

Entretanto cresci mais um bocadito e aos 15 anos, gostar de Fado nao era cool. Entao, durante o dia cantarolava-se a musica cool da época e ao entrar em casa, entre banhos e o lavar da loiça do jantar, a fadista em mim revelava-se. Aos 15 anos, entre os muitos cd's de backstreet boys, N'sync, Britney Spears, Christina Aguilera... eu tinha um dos primeiros discos da Amalia Rodrigues!

Uns anitos mais tarde surgiu uma fadista que transformou o Fado em algo mais cool. Mariza. E ai pude finalmente assumir o meu gosto pelo Fado e la arrisquei a colocar no leitor de cd's do meu carro um ou outro cd.

Um dia fui jantar a uma Casa de Fados. Maravilhoso! Enquanto jantava num restaurante, situado em plena Lisboa antiga, os fadistas iam-se revezando, cantando à mesa dos que comiam! é magia, é Lisboa! Gostava de repetir, agora que ja tenho idade para pedir um bom vinho enquanto oiço com melancolia o Fado de Portugal! 

Um concerto de Mariza, enquanto vivi na Madeira, foi um desses momentos mágicos em que nao pude conter alguns arrepios e mesmo algum brilho nos olhos... 

O Fado... emociona-me! Sinto que as minhas raízes estao ali, que é a historia de Portugal que se conta, que é a cultura de um povo alegre mas simultaneamente melancólico, saudosista e sentimental. Choram-se os amores perdidos, choram-se os desamores, cantam-se os mercados e as praças, cantam-se as colinas de Lisboa... 

O meu pai fala-me por vezes de Lisboa, da Lisboa antiga, aquela que ja nao cheguei a conhecer! Os cinemas, os barbeiros, o Parque Mayer... O Parque Mayer! Aposto que a maioria dos da minha idade nunca sequer por la passaram! Eu tive a sorte de assistir a uma Revista nesse local. E sem nunca ter conhecido o Parque Mayer nos tempos em que fora O GRANDE Parque Mayer, nao pude deixar de sentir uma enorme tristeza ao perceber a dimensão que aquilo tivera outrora e ao constatar o estado de abandono em que se encontrava. Perdeu-se mais um bocadinho de Lisboa, perdeu-se mais um bocadinho de Portugal!

é isto que sinto... que percebemos menos o fado, que nos desligamos das nossas raízes, que ja nao sentimos Lisboa ou tao pouco Portugal... Aos poucos perdemos a identidade; tornamo-nos cidadãos do mundo, deixamos de ser Portugal... As minhas raizes estao là, entre os fados Lisboetas e os cantares à desgarrada do Alentejo! Tenho saudades de Portugal... nao do que é, mas do que era... 

Hoje foi noite de fados... 
Senti saudades de Portugal, saudades de um bom vinho tinto, de um passeio pelo Chiado, do cheiro do Tejo, de estar com alguém que conhece Lisboa, que sente Lisboa, que percebe o Fado...

1 comentário:

  1. Hi Sofia!Love this post about fado.I am not Portuguese,(i am from Montenegro)but for the past 3 years i live in Lisbon (my hausbant is portuguese) and during my time here i learnt to love and really appreciate fado.It takes me back in time,and place,brings me dear memories ...it really wakes up some special emotion,so different than any other music.As long as there are people like you who talk about their tradition and roots with love Portugal will remain unique and loved.
    XoXo Mimi

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