quinta-feira, 26 de abril de 2012

1 mês depois...

A um dia de iniciar o meu regresso, começo interiormente a fazer o balanço desta viagem e a questionar-me sobre o impacto que esta tera no meu quotidiano!

Internet.

Sou uma addicted!  Posso passar horas percorrendo blogs, viajando no youtube ou cuscando no facebook. Algumas vezes, porque gosto realmente da acessibilidade gratuita à informação que ela nos proporciona. Outras vezes, a maior parte delas, funciona como um escape, uma maneira de fugir à realidade, nao porque esta seja mà, mas porque exige que eu seja activa. E embora no final de um dia de trabalho me pareça mais fácil ceder à passividade do que enfrentar activamente a realidade, apercebi-me neste quase-um-mês de viagem de que o isolamento nao compensa! Que ao enfrentar a realidade, ao tentar gerir as experiências com as quais sou confrontada, ao expôr-me, ao abrir-me, sinto mais, aprendo mais, conheço mais e por isso vivo mais! 
No meu regresso a casa, desejo ceder menos a essa passividade e viver mais, o que quer dizer, menos horas sentada em frente ao ecra do computador e mais horas dedicadas ao lar, aos amores e amigos, a mim propria!

desCOMPLICAR.

Em Ubud fui conhecer Jelila, uma terapeuta holistica de renome internacional. Leitura da aura com base na cor dos chakras, um mundo completamente novo e misterioso para mim! No meio de muita informaçao que me foi lançada, uma delas fez particularmente sentido na minha historia. Quando tudo corre bem, quando tudo flui sem obstáculos, eu tenho que procurar e eventualmente criar um problema! é a minha faceta revolucionaria que me diz que tenho que estar sempre a lutar por alguma coisa! Mas nao tenho... E realmente é verdade, tenho tendência a complicar a minha vida de muitas maneiras: ou porque tenho preguiça, ou porque nao quero desconforto, ou porque tenho medo, ou porque nao quero gastar dinheiro, ou porque tenho orgulho, ou porque nao quero perder poder... a verdade é que passo os meus dias a complicar tudo e mais alguma coisa. O resultado é uma fadiga psiquica intensa que me atira para o fundo do "bac"!
No meu regresso a casa, desejo aprender a desCOMPLICAR. Quero aproveitar o tempo que me é concedido neste Terra da melhor forma, nao quero desperdiçar tempo nem energia com coisas que nao têm assim tanta importância! Como ja aqui escrevi noutro post, muitas coisas nao passam de pequeníssimos detalhes que nao nos matam nem ferem gravemente!

Meditação e oração.

Uma semana em Kuta sem um único momento de meditação e sinto-me regressar aos dias que antecederam a viagem: cabeça cheia, "visão" destorcida da realidade resultando numa fraca clareza de espirito e numa tempestade de emoções... Sinto falta do "espaço" que se cria no espirito depois de um momento de meditação, da leveza que lhe é consequente e da paz que se sucede! 
No meu regresso a casa, desejo meditar diariamente, logo pela manha, para enfrentar o dia de uma maneira nao tao séria, mais descontraída, com mais sorrisos, com menos medo e menos stress.
Oraçao. Ao conversar com o Dr Theja, percebi que a diferença entre meditação e oração nao é assim tao grande e que os efeitos no espirito sao semelhantes! A divergência situa-se no facto da oração ser dirigida por pensamentos precisos, tal como enviar amor a alguém (ou pensar com amor em alguém). O livro "Um curso em milagres" chamou igualmente a minha atenção para a oração e apercebo-me de que todos estes eventos geraram em mim a crença ou a fé que procurava! Dou comigo a dizer a mim mesma "Deus te dara as experiências de que precisas para continuares a evoluir!", para logo de seguida uma outra parte de mim (sera ego?) contestar a palavra "Deus" e substitui-la por "Universo"! Sei, com isto, que comecei a acreditar em algo maior, numa energia de amor extremamente poderosa que governa o Universo, mas confesso que a palavra "Deus" me incomoda ligeiramente! Provavelmente porque associo à religião, mais precisamente à religião católica e isso levanta em mim uma série de questões que necessitam resposta! De repente, a necessidade de fazer a preparaçao (como lhe chamam!) para ser baptizada pela igreja católica (PARA PODER SER MADRINHA DE CASAMENTO DE UMA GRANDE AMIGA!) nao me parece uma ideia nada ma! Uma oportunidade para colocar as questões que possuo e discutir de termos como estes, "Deus" e "Universo".
No meu regresso a casa, desejo dirigir-me finalmente àquela igreja católica da cidade e informar-me sobre tudo o que preciso de fazer para me preparar para o baptismo. E se houver baptismo, o pessoal que se prepare, porque vai haver festa! 

Dialogar.

La em casa, temos tendência a fazer as nossas refeiçoes ao mesmo tempo que devoramos séries de TV. Repetindo padroes aprendidos na infância apercebo-me de que um padrao aparentemente pouco importante, pode tornar-se num habito familiar que se transforma  num problema na vida de muitos casais e familias: nao ha dialogo, nao ha comunicaçao, nao ha interesse pela vida dos que mais amamos, nao ha interacçao, existe apenas uma comunhao de espaços e bens! 
No meu regresso a casa, desejo que os momentos passados em torno da mesa sejam momentos de interacçao! Que saboreemos o momento, que estejamos presentes ali e nao numa qualquer série de TV ou telejornal; que discutamos sobre nao-importa-o-quê, mas que haja vida em torno da mesa! Living in the moment!

Gratidao. 

Ao longo desta viagem, comecei a cultivar este sentimento e senti-o crescer! Eu sei que isto pode parecer  poético ou seja la o que for, mas é exactamente o que sinto! Quando inicei a minha viagem, tinha noçao de que tinha tudo aquilo de que precisava no meu dia-a-dia e mais ainda, mas nao conseguia sentir qualquer gratidao. Aqui, aprendi a sentir gratidao mesmo estando longe dos que mais amo, longe do conforto e higiene a que estou habituada! Houve alturas em que quis adiar, dizendo-me que quando regressasse a casa logo sentiria gratidao, mas que aqui, com agua fria, sem lavatorio, sem papel higienico e sem toalha para me limpar ao sair do duche, com osgas, baratas e bichao à mistura, era demasiado dificil! Mas nao foi! Contrariamente ao que possam pensar, tem sido mais dificil sentir gratidao na minha vida europeia do que aqui! Anyway, cheguei a um ponto aqui em que nao preciso de mais nada para me sentir feliz. é claro que se tivesse aqui as pessoas que mais amo, seria ainda mais saboroso, mas nao dependo disso para me sentir bem! Estou num qualquer restaurante de kuta, a lua à minha frente e uma banda atras de mim a tocar a musica "Let it be, let it be" dos Beatles. Sinto uma gratidao indescritivel dentro de mim: "Thank you, thank you, thank you! Por me permitir viver este momento em plena saude, Nesta minha vida em Terra!"
No meu regresso a casa, desejo realizar diariamente a minha lista de gratidao, relembrando momentos pelos quais me sinto ou me devo sentir grata! Comecei a fazer isso em Ubud e é incrivel como de dia para dia, esses momentos começaram a crescer em numero! A verdade é que comecei a sentir gratidao em momentos que antes me pareciam banais e o resultado é que começo a perceber o quao afortunada sou!

Fui até à praia recolher areia para uma amiga e despedir-me da ilha! What a great month! Obrigada por tudo, obrigada por me ter protegido, obrigada pelas liçoes de amor! Vim à procura de magia no exterior e encontrei fé dentro de mim! E agora... let the journey begins!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A derradeira prova

Bom, Kuta nao tem absolutamente NADA de espiritual! Entre um transito caotico, resorts e spas, centros comerciais, comida "de plastico" e uma praia deliciosa mas apenas para os surfistas (porque entrar num mar daqueles é semelhante a uma lavagem na maquina de lavar a roupa!), o meu humor começa a dar sinais de si!

 Hoteis de luxo...

 Centros comerciais com acesso ao mar...

 Lojas e mais lojas...

O paraiso do surf...

Encaremos esta semana em Kuta como o exame final! Conseguirei eu meter em pratica todas as aprendizagens feitas em Ubud agora que estou num espaço menos "fácil", menos propicio?  E digo-vos honestamente que a coisa nao esta fácil!!!

Meditação, que supostamente deveria acontecer todos os dias, nao tem acontecido! O meu ego, mestre da sabotagem, arranja todas as desculpas e mais algumas para evitar ser dominado: que o quarto é pequeno, que nao tem um espaço propicio para meditar, que la fora ha muita gente, que as pessoas vao olhar para mim e por ai fora... num desenrolar de argumentos que me têm persuadido de continuar uma rotina que se vinha instalando! Depois, continuando a sabotagem, diz-me que na Suíça ai sim, que vou ter todas as condições para o fazer e que o vou fazer, todos os dias... bla, bla, bla! Eu reconheço a sabotagem, eu identifico-a, mas nao tenho conseguido ultrapassa-la!!! Shame on me!

Velhos padrões de comportamento re-aparecem e em grande força! 

Agora que estou num lugar que considero menos propicio à minha pratica espiritual, começam as desculpas: que a culpa é do lugar, que se eu nao estou bem é por causa desta gente toda, destes centros comerciais e deste transito caótico! é sempre mais fácil culpar o exterior ao invés de aceitar que estamos a fazer uma escolha, estamos ou melhor, estou a escolher sentir-me menos bem, estou a escolher focar-me nas coisas que se passam fora de mim, estou a escolher... errado!

E quando começo a responsabilizar o exterior pelo meu estado de humor, começa a decadência! Considerando que o "mal" esta no exterior, espero que a "cura" venha igualmente de là! E entao espero que tomem conta de mim, que alguém me "salve", que alguém me ajude (porque depois de um mês de viagem sozinha, nao sou auto-suficiente!?). Carências afectivas re-aparecem e com elas velhos padrões de comportamento! Geram-se discussões e surgem lagrimas de desespero: preciso de salvação!

Ter consciência de tudo isto nao é fácil, mas menos fácil ainda é assumir, assumir que se tem fraquezas... o ego detesta isso, ele tem uma imagem a defender e é por isso que se gera um forte conflito interno entre aquilo que somos verdadeiramente e aquilo que o ego deseja mostrar como imagem do que somos! 

Respirei e assumi, com alguma dificuldade mas assumi! Assumi as minhas fraquezas tirando poder ao ego e assim encontrei de novo espaço dentro de mim para fazer uma escolha... certa!

E nisto, vem-me à memoria um episodio ocorrido em Ubud. Num dos muitos trajectos em bicicleta pelas ruas da vila, resolvi parar e entrar numa loja de roupa de yoga. Ao entrar, apercebo-me de que varias pessoas se encontram num dos cantos da loja, aparentemente atarefadas com alguma coisa. Passeio-me pela loja, tocando em algumas peças, ignorando outras até que cheguei ao local onde se encontrava o tal grupo de pessoas. Observo mais atentamente e apercebo-me de que elas estavam realmente atarefadas com alguma coisa... estavam a tentar salvar a vida de um homem, que ali mesmo, naquele canto daquela loja, sofrera uma paragem cardíaca! Reparo que uma rapariga faz a massagem cardíaca, para logo de seguida ser substituída por um homem que continua a operaçao. E nisto oiço-o dizer "Let's stop. He's dead! ". Sai da loja correndo, peguei na bicicleta e pedalei dali para fora completamente transtornada! 

Nunca falei sobre tal episodio no blog porque nao conseguira perceber porque é que eu entrara precisamente Naquela loja, Naquele momento? Qual era afinal o sentido de tudo aquilo?

Estou em Kuta, a gozar os meus últimos dias de férias, mas sei que nao posso dar por garantido o meu regresso a casa. Ha tanta coisa que pode acontecer até là... Por isso, escolhi viver o momento presente, sem garantias de que o amanha vira, porque garantias dessas ninguém as tem! Tenho comigo tudo aquilo de que preciso para estar bem, nao me falta ABSOLUTAMENTE nada e embora nao tenha aqui ao lado as pessoas que mais amo neste mundo, tenho-as à distancia de um ecra de computador (Gratidão pela internet e pelo skype!). E por isso tudo eu escolho sentir-me bem e feliz! Eu escolho!

E foi assim que vivi o dia de ontem, que viverei o dia de hoje e quem sabe, o dia de amanha! O Universo esta a por-me à prova: serei eu ainda dependente das condiçoes externas para ser feliz ou terei aprendido definitivamente que a felicidade so depende de mim?

Final do dia na praia.

Maravilhoso pôr-do-sol numa praia perto de Kuta.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Deixando Ubud...

Hoje deixo Ubud, vila que se tornou na minha casa nestas ultimas três semanas!

Esta ultima semana foi sem duvida a mais intensa! Tive a impressão de que tudo começava finalmente a acontecer e a uma velocidade estonteante, tornando-se difícil para mim assimilar tanta mensagem que me ia chegando! Um jantar entre fellows do Canada e de França, o encontro com a havaiana Mala que me levou a Robin Lim e a Kanaia (o "little boy"), a conversa de ontem com o Dr. Theja e fellows do Canada, Australia e USA sobre meditaçao, estilo de vida e astrologia... tudo começou a fluir para mim sem quaisquer barreiras! E é precisamente neste momento que deixo Ubud para ir conhecer Kuta, um espaço pouco ou nada espiritual que me ajudara a atenuar a transição entre este mundo e o outro, ocidental, que me espera!

Vivi, até agora, experiências magnificas: conheci Ketut, realizei dez aulas de yoga, algumas das quais absolutos "abanões espirituais", mergulhei e rezei nas águas sagradas de Tirta Empul, chorei ao (re)encontrar uma cadela especial, relaxei nos diversos e maravilhosos spas da vila e, nao menos importante, sobrevivi estas três semanas sozinha, sem sombra de solidão! Sim, houve vezes em que se tornou um pouco boring... estou sozinha e nunca tive realmente ninguém aqui com quem partilhar as experiências, mas... nunca me senti desesperada ao ponto de querer voltar imediatamente para casa! E isso é MUITO para mim, para a MINHA historia... quando me lembro que na Madeira desesperava frequentemente, mesmo vivendo no meu pais com outras pessoas de quem até gostava e com dias preenchidos pelo trabalho! Aqui, no outro canto do mundo, sem ninguém, sem a minha língua, numa cultura completamente diferente da minha, eu sinto-me mais forte!

Vim para Bali esperando que a magia acontecesse e o que tenho a vos transmitir da minha curta experiência é que a magia nao existe fora de nos! Nao é esta ilha que vai trazer-me todas as respostas, nao é por ter feito esta viagem que me transformarei numa pessoa perfeita, feliz, calma, sabia, intuitiva... Nao é porque estou aqui que vou conhecer gurus que me guiarão no meu processo evolutivo! Nao retornarei a casa completamente transformada, como gostaria! Vim para ca procurando fora de mim aquilo que apenas posso encontrar ca dentro! Algo que eu ja ouvira e dissera varias vezes, mas que nunca sentira realmente!

Tenho uma clara consciência de que vim aqui para começar qualquer coisa... é apenas o inicio, nada foi realmente alcançado!

Yoga: ainda nao sinto verdadeiramente os efeitos mentais, mas sinto-os no corpo! As posturas sao ainda difíceis e dolorosas, mas o meu corpo torna-se mais flexível e zonas que eram anteriormente dolorosas nao o sao mais! Dei-me conta de que no meu dia-a-dia, quase nao respiro; durante determinadas posturas, tenho a impressão de abrir espaços no meu corpo com a minha respiração, espaços por onde o ar nunca antes passara! E apercebo-me também que no meu dia-a-dia, nunca tenho consciência de que respiro, nunca me lembro de respirar...

Meditaçao: também e apenas o começo, é ainda difícil de acalmar a minha mente. Ha que meditar todos os dias e mostrar à nossa mente que nao vamos desistir, que vamos continuar, até que ela se acalme e nos possamos ter acesso à sabedoria universal ou a Deus! Estao a perceber o que vos digo? Nao é por ter vindo aqui que tudo alcancei... eu queria magia e aprendi que devo trabalhar, todos os dias, a cada momento do dia, para conseguir a tranquilidade de espirito que almejo!

Fui confrontada a padrões de comportamento. Medos, julgamentos constantes de mim mesma, recusa em aceitar, falta de gratidao. Conheci-me melhor a mim mesma... e procuro aceitar-me como sou! Aceitar!

Quando nos afastamos de tudo o que nos é familiar, da nossa zona de conforto, apercebemo-nos de tudo o que temos e do pouco que valorizamos! Temos tantas coisas pelas quais nos devemos sentir gratos! A minha casa, por exemplo... ok, nao é realmente a MINHA casa, mas é ela que me acolhe a cada final de dia, é confortável, e responde a todas as minhas necessidades e mais algumas. E eu nunca estou contente... quero uma casa que seja realmente minha, jardim e tudo... e nao é incorrecto querermos mais para nos, mas nunca terei mais enquanto nao sentir sincera gratidão por tudo o que tenho ja! Enfim... trabalhar a nossa gratidão é tao importante quanto meditar diariamente!


E finalmente, ha que parar de complicar a vida, de criar problemas onde eles nao existem, de nos construir barreiras e limites por tudo e por nada! Eu sei, facil falar, dificil fazer! Mas, escutem bem o que vos digo... todos os dias, a cada momento, temos a possibilidade de escolher! Podemos escolher complicar as coisas e deixarmo-nos levar por todas as consequências que lhe sucedem, ou podemos escolher parar, respirar profundamente algumas vezes e suprimir as barreiras que nos proprios construimos! Nos temos sempre a possibilidade de escolher, SEMPRE!

Vou hoje para Kuta. O meu quarto nao tem agua quente e escolhi assim porque era mais barato (eu falei que tinha problemas em gastar dinheiro?!). Mas porquê Sofia? Nao sejas assim, sao so mais meia dúzia de tostões e terás mais conforto! Sim, é verdade... Mas alguma vez alguém morreu por tomar duche de agua fria? Entao?! Quando faltar agua quente la em casa, vou recordar esta experiência e ao invés de ficar de mau humor porque agua fria nao é confortável, eu vou agradecer por ter simplesmente agua, banheira e casa de banho sem baratas ou osgas (que é o que nao falta aqui!). A sério... quando é que a agua fria passou a ser um problema nas nossas vidas?! é tao e somente um pequeno detalhe...

é como a posição para meditar. Ja experimentaram? Sim, sentadinhos de pernas cruzadas, costas direitas, maos posadas em cima dos joelhos! 5 minutos passam-se bem. 10 minutos, joelhos e pés começam a doer! 15 minutos, pernas dormentes... e ai queremos parar, que é demais, que nao vale a pena suportarmos tanta tortura! Mas alguma vez alguém morreu com tal desconforto?! Essas dores nao nos vao matar nem causar danos maiores... so e apenas algum desconforto! é tao e somente um pequeno detalhe...

A minha viagem ainda nao terminou! Mais uma semana de profunda aprendizagem, mesmo se o local é menos "espiritual"!

Deixo amor a todos os que me seguem, comentando ou nao! 
Gratidão por estarem ai e paz nas nossas vidas!* 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Working with Robin Lim

7 da manha, despertador! Aula de yoga à 8. Nova professora, mais uma mulher encantadora, mais uma aula fabulosa! Ao longo destas 3 semanas, o meu corpo evoluiu e a minha mente resiste menos e descansa mais!

9h45, hora de um fabuloso pequeno-almoço: sumo de papaia e torradas com manteiga de orquídea! Enquanto me deliciava com a refeição, definia na minha mente o programa do dia: "A seguir ao pequeno-almoço, vou dar um mergulho na piscina. Devoro mais umas paginas do livro "Un cours en miracles" e dou o "bom dia" ao namorado vis skype. Depois vou almoçar e de seguida, a missão definida ontem com ajuda da mae: gastar dinheiro comprando alguma coisa para mim!" (Pois parece que tenho um ENORME problema nao em poupar, mas em gastar dinheiro! Assunto para outro post.)

Enquanto a minha mente se preocupava com tudo isto, uma senhora "estacionava" a bicicleta no parque do café. Dos seus cerca de 60 anos, pele queimada e enrugada de tanto sol e de vestuário colorido qual baba cool, ela entrou no café carregada de sacos, falando alto e rindo para toda a gente. Oh nao! - pensei - mais uma Mme Bijoux chanfrada da corneta! So espero que nao se venha meter comigo!

Mas, como atraímos aquilo em que pensamos e eu pensava nela, nao é de admirar que ela tenha vindo sentar-se na mesa mesmo ao lado da minha! E que tenha começado a conversar comigo! E que por fim se tenha sentado à minha mesa!

Chama-se Mala, é Havaiana e é uma midwife. Ha varios anos que vem para Bali por alguns meses como voluntária na Yayasan Bumi Sehat (Healthy Mother Earth Foundation), criada pela famosa Robin Lim!

Robin Lim é uma americana residente em Bali que recebeu em 2011 o prémio "CNN Hero of the Year". "Mother Robin" tem ajudado milhares de mulheres indonesianas pobres a atravessarem uma gravidez e um parto saudaveis. A fundaçao presta cuidados pré e pos-natal gratuitos e auxilia o parto natural, utilizando técnicas para alivio da dor, diminuição da taxa de cesarianas contribuindo assim para mamas e bebes saudáveis! 

Mala pergunta-me de onde venho e o que faço, questões comuns entre viajantes. Que sou portuguesa, que vivo na Suiça e que sou fisioterapeuta. Diz que precisa da minha ajuda, que ha um menino que esta com problemas e pergunta se posso ir vê-lo à clinica da "Mother Robin"! 

20 minutos depois, eu estava na clinica, de boca aberta, vendo mulheres contorcerem-se com dores de contracçoes, ouvindo outras berrando e fazendo força durante o parto, pegando em recém-nascidos ao colo e tudo isto entre dezenas de casais chegando e partindo de mota com os seus bébés para as consultas pediatricas gratuitas. De repente vejo Robin, com a sua grande trança e aquela sua expressao calma e bondosa, deslocando-se rapidamente para um dos quartos: "She's having the baby! Let's go!" - diz em alta voz, seguida por uma série de midwives voluntárias que chegam de todos os cantos do mundo!

"Let's see the little boy, Sofia!" diz-me Mala. Sigo-a. O "little boy" tem 2 anos, e nao tendo um diagnostico preciso,  apresenta um nítido atraso de desenvolvimento motor, precisando de muita ajuda para conseguir fazer alguns passos! So sei que minutos depois, eu estava com ele no chão, tentando fazer algo semelhante a um tratamento de fisioterapia em condições que eu nunca vira! Precisava de colchões no chão, de jogos, de brinquedos, de bolas e balões! Ao invés disso tinha relva, pedras, arvores, flores, bichos e terra! De pés descalços, transpirando com o calor forte e húmido da "Terra dos Deuses", eu pensava no meu curso de Bobath e no que a professora me dissera, que o importante é trabalhar no ambiente próximo do doente, que nao precisamos das salas de terapia, que os jogos que utilizamos em terapia nao significam absolutamente nada para o paciente! Ora ali estava uma boa oportunidade para (tentar!) meter tudo isso em pratica!

Depois do "tratamento", seguiu-se um almoço com Mala, que me chama de "Sweetie"! Almoçamos e conversamos sobre as nossas vidas! Ela falou-me do ultimo marido, que morrera porque ingerira um germe existente em Africa e na Asia que o levou a uma morte lenta e sofredora! Eu falei-lhe do meu trabalho, da minha falta de crença na profissao que exerce, se farei realmente alguma diferença na vida das pessoas e da minha falta de crença em geral!

Diz-me para dar amor aos meus doentes, para lhes tocar com amor! Diz-me que use cor, que meta musica, que os faça rir, que faça tratamentos em grupo, que os leve a sair, que use animais e crianças para animar os seus dias! Diz que a minha missao nao é trata-los mas faze-los esquecer, nem que seja por uns breves minutos, da situaçao que vivem! "You are there to love them!". E acrescenta que, se nao sou feliz ali, que deixe o lugar! Que nunca se sabe até quando estamos neste nosso corpo e que portanto, devemos seguir o nosso coraçao e as suas paixoes; nao ha tempo a perder! Falamos ainda de Deus, do Universo, do Uno, do amor como a unica coisa real, da Era Dourada, de terapias alternativas, da morte (que nao existe!), do contracto que assinamos antes de virmos a esta vida, que vivemos o que escolhemos viver... 

As mensagens que os meus ouvidos recebem e que os meus olhos observam sao tantas que começo a sentir uma ligeira dor de cabeça, que me acompanhara o resto do dia! Muita informação para absorver e digerir!

De maneira que até sexta-feira, trabalho como voluntária "with Robin Lim", tendo fazer o meu melhor pelo "little boy"! O menino precisaria de fisioterapia constantemente, mas fisioterapeutas so em Denpassar e a preços inacessíveis para a família! Na fundação, nao se vêem fisioterapeutas voluntários; apenas médicos, enfermeiros e parteiras o que me diz que ainda ha muito a fazer! Em Bali, as crianças deficientes sao isoladas pela própria família, sobretudo por vergonha, o que nao contribui em nada para o desenvolvimento ja atrasado do "little boy". Hoje, conseguimos convocar familia e vizinhos para assistirem ao tratamento e ao que me pareceu, a criança nunca vira tanta gente junta torcendo por ele! Que sorriso lindo aquele! Amanha, amanha sera dia de piscina! O meu objectivo é transmitir o máximo de informação a Mala e à família do menino para que ele continue a ser estimulado todos os dias, mas o ideal seria mesmo encontrar fisioterapeutas voluntários!

Se alguém estiver interessado em voluntariar-se ou conhecer alguém que podera estar interessado, nao hesitem em contactar a fundaçao: info@bumisehatbali.org ou iburobin@bumisehatbali.org ou entao contactem-me se tiverem algumas questões que gostariam de ver esclarecidas primeiro! Se quiserem contribuir com dinheiro, a fundação agradece para poder adquirir material, medicamentos e melhores condições! 

La bonne nouvelle: uma nova clinica começara a ser construída ainda este ano, muito graças ao prémio recebido pela Robin, mas ajuda continua a ser necessária! Ainda hoje um casal de Australianos chegou com 3 sacos cheios de lençóis para bebes, barretinhos e ursos de peluche e ao que parece fazem algo semelhante todos os anos! Eita (como diria a Carol!), que ha gente boa neste mundo!

Escusado sera dizer que tenho o coraçao a abarrotar de gratidao! Mala agradece-me, mas quem agradece sou eu, por poder fazer parte, mesmo que por apenas alguns dias, de algo tao GRANDE, tao MARAVILHOSO, tao BOM! Nao estou a ajudar mais o "little boy" do que ele me esta a ajudar a mim, acreditem! E no fim de contas a vida é isso mesmo: criar relaçoes de troca, dando e recebendo, sem manias, sem posiçoes ou lugares a defender!

Dar, GRATUITAMENTE, porque o que se recebe em troca é nem mais, nem menos do que o INDESCRITÍVEL!  

A entrada da clinica.
 A foto nao mostra praticamente nada, mas a clinica nao é fisicamente muito mais do que se vê... telhados e chão! O resto é amor :)




quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sem "DEVIA"!

O dia de ontem nao foi propriamente preenchido e eu nao estava contente. Quer dizer, eu estava contente com o dia, nao estava era contente com o facto de ele nao ter sido preenchido! 

é aquela ideia derrière la tête que nos diz que todos os dias têm que ser espectaculares, preenchidos de emoções e acontecimentos únicos, sobretudo quando nos encontramos no outro canto do mundo... que temos que aproveitar ao máximo (eu conheço a mesma versão em varias línguas, "Sofia, aproveita ao máximo!" ou "Sofia, profite à fond!")! Mas o que é isso de aproveitar ao máximo?!

E por isso eu nao estava contente. Nao estava contente porque a minha mente falava que eu DEVIA ter feito isto, que eu DEVIA ter feito aquilo, que era SUPOSTO eu fazer aqueloutro e quando a mente fala demais, a gente deixa de ouvir o coraçao. E quando deixamos de ouvir o coração, a gente nao sabe mais o que quer realmente! Por isso ontem, ao final do dia, tomei a decisao de dizer chega ao "DEVIA"!

E nisto ele liga-me via skype. Falamos do nosso dia e ele insiste com a pergunta "E amanha o que vais fazer?". Digo que nao sei, que logo se vê e ai sinto uma ligeira irritaçao. A minha mente esta a querer dizer-me que eu DEVIA fazer qualquer coisa, mas eu nao quero ouvir, recuso-me a ouvir! E ai ela protesta ainda mais... mas eu nao deixo! CALOU!

Hoje acordei às 8 da manha, como quase sempre desde que aqui cheguei. Escolhi ficar na ronha "mamando" séries no computador até que o meu coração falou mais alto do que a minha mente! "Sofia, chega de computador! Estas a refugiar-te da realidade... estas por tua conta em Ubud, nao tens quaisquer planos para hoje e o dia prevê-se boring. So what?! Enfrenta!" E enfrentei! Lavei os dentes, a cara, meti o biquini e preparei-me para ir tomar o pequeno-almoço.

No caminho, cumprimento alguns dos trabalhadores da home stay que aguardavam pacientemente que eu deixasse o meu quarto para que eles pudessem limpa-lo e arruma-lo.

- What are you going to do today? - pergunta-me um.
- Oh... I don't know... but I would like to go see the elephants! - respondo.
- I can take you if you want!  - responde-me o mesmo. - I have motorbike, but I'm careful, do not worry! And I can show you some temples around Ubud if you like!
- Ok, thank you! - replico ainda nao convencida! - And your name is...???
- Eddie. Eddie Murphy! - acrescenta, colocando o rosto de perfil como que me mostrando as semelhanças com o actor americano.

Mais uns dedos de conversa e combinamos o trajecto e o preço. Visitar os elefantes e de seguida, Tirta Empul, o templo das aguas sagradas! Monto-me na mota agarrada ao "Eddie Murphy" e assim se inicia uma manha imprevisivel!


Chegada ao primeiro destino, um sarongue foi-me impingido à entrada! 
- Why do I have to put this on? - pergunto ao Eddie.
- Because it's a temple and you have to respect the place by using the same clothes balinese people use! 
Aceno afirmativamente com a cabeça sem perceber no entanto porque haveriam de colocar os elefantes dentro de um templo sagrado!

Começamos a andar, subindo e descendo escadas no meio de uma floresta tropical, ao som de agua deslizando por entre pedras e rochedos!




Ao mesmo tempo que procurava captar fotograficamente tudo o que presenciava, eu utilizava todos os meus sentidos em busca dos majestosos elefantes, mas nada!




E foi quando saímos do templo que resolvi lançar: 
- I thought we were here to see the elephants!
- Yes, this is the elephant cave! - responde-me Eddie.
- No, I mean the animals, the elephants! (so faltou mesmo iniciar uma mimica do bicho...)
- Oh!!!! You mean the elephant park!!!
- Yes!
- Oh, that is too far. Can not go with motorbike. Must go with car. I can talk to my brother tomorrow... he has a car!
- Ok, ok, no problem! - respondo.
- I'm sorry!
- Eddie, there's problem, really! I wouldn't have come to this wonderful place if it wasn't you! I'm really happy to have visited this place... it's beautiful!

As minhas ideias bem definidas sobre o programa da manha haviam sido graciosa e maravilhosamente alterados! O templo que visitei chama-se Goa Gajah, Bali's sacred elephant cave e tem origens no século XI. Julga-se que o local foi parcialmente destruído por um desastre natural e ficou submerso durante séculos até à re-descoberta em 1923. Ao visitar o local, muitos sentem-se regredir no tempo. Aqueles que o visitam para meditar, sentem-se facilmente mais calmos pela essência espiritual do local. Facto interessante é o de que duas das fotos tiradas no local estão repletas de orbs (presenças espirituais para os que acreditam).



Proxima paragem: Tirta Empul, um templo cujas aguas, criadas pelo Deus Indra, terao propriedades curativas. Eddie abandonou-me à entrada, alegando nao estar vestido correctamente para entrar no local. "I will wait for you here" disse-me, despedindo-se.


Entrei, sarongue impingido pela segunda vez nesta manha e assim que me aproximei, reconheci de imediato o local fotografado inúmeras vezes pela minha cyber-amiga Carolina Bergier.


Dirigi-me aos balneários para me preparar para entrar nas aguas sagradas. Biquini por baixo e sarongue por cima, cobrindo o máximo de pele possível para respeitar a cultura. Mas e meter o sarongue? Eu dava voltas e voltas com o pano e por mais tentativas que fizesse, saia sempre de rabo à mostra! Olhava ao meu redor perguntando-me como é que Carol havia conseguido fazer tamanha proeza até que, nao tendo outra escolha, resolvi pedir ajuda a uma jovem rapariga indonesiana que ali se encontrava. Felizmente, este povo esta sempre disponível para ajudar e num instante ela "enrolou" o sarongue à minha volta, tapando tudo o que deveria ser tapado. Ali estava eu pronta para iniciar o ritual!

Tentando nao chamar a atençao - rapariga ocidental viajando so se metendo no meio do povo indonesiano - larguei os meus chinelos na entrada do templo e meti os meus pés na agua. GELO! Prossegui. Agua pela barriga e toca a andar em direcção a uma das fontes livres jorrando agua sagrada!

E mal toco aquela agua com as maos, uma súbita vontade de chorar se apoderou de mim! Nao era tristeza, nao era medo, nao era desespero... eram as minhas primeiras lagrimas de GRATIDAO! Gratidao por estar ali, por poder viver aquilo, por sentir aquela agua correr-me nas maos! Gratidao ao Universo por me ter ajudado a chegar até ali, por nao me ter deixado desistir da ideia e por estar a cuidar sempre bem de mim nesta minha grande viagem!

Chorei sem ninguém dar por isso porque as minhas lagrimas se misturavam com as aguas sagradas. Fechei os olhos, uni as maos em jeito de reza, rezei um "pai-nosso" porque sim... e depois falei com Deus (ou com o Universo, nao é Carol?!). Primeiro, agradeci. Depois pedi. Pela minha familia. Próxima e afastada. Com quem me dou e com quem nao me dou. Pelo namorado maravilhoso e sua família. Pelos amigos. Pelos menos-amigos. Pelos que me magoaram e pelos que magoei. Pelos colegas de trabalho. Por mim. E no fim, outro "pai-nosso", porque sim! 

Terminando o meu momento, resolvi virar costas à fonte para receber a agua no topo da minha cabeça, bem ali no 7chakra e nisto abro os olhos para me aperceber de que atras de mim, uma fila de pessoas aguardava o meu lugar. Todas as outras fontes se encontravam livres e mesmo assim, todas as pessoas aguardavam em fila Aquela fonte onde eu me encontrava vivendo o Meu momento! Ninguém queria as outras fontes. Todos queriam a "minha" fonte! Deixei o meu lugar sem perceber o que se passava... olhei ainda para tras para me certificar de que tinha visto era bem real! Sim! Fila para a "minha" fonte; as outras fontes, vazias. Alguma coisa de muito especial e inexplicavel se passara certamente!

Sai feliz em direcção aos balnearios. A minha missão ali estava cumprida (ou pelo menos parcialmente, porque entretanto fui-me lembrando de muita coisa que gostaria de ter falado e que nao falei!). Como estava sozinha, nao pude fotografar o momento. Apenas aquele que lhe sucedeu!


Ainda nos balneários, feita num pingo, eu agradeci mais uma vez pela oportunidade de viver esta experiência maravilhosa! 

Reencontrei o Eddie ca fora e regressei feliz a casa! Acordei sem "DEVIAS" e fiz exactamente aquilo que o meu coração pedia! Resultado: sentimento de concretização, de felicidade, de amor e de MUITA GRATIDÃO! 

domingo, 8 de abril de 2012

Fuck, just do it!

7 da manha e o despertador toca. Horas de levantar, mas desta vez nao é o emprego que me espera. As 8 da manha, o rendez-vous (RDV) é no Yoga Barn para mais uma aula de yoga.

Como cheguei mais cedo - sim, que eu sou daquelas pessoas que chega sempre mais cedo aos RDV! - tive ainda tempo de mergulhar no maravilhoso livro "Contrats sacrés" oferecido pela minha querida SR.

Pequeno momento de leitura para iniciar de seguida a minha aula de yoga que, confesso, vai-se tornando mais suportável! Hoje ja so olhei para o relógio uma vez e embora a mente continue a divagar (é que até de um episódio de "Sex and the City" me lembrei hoje!), ja vou conseguindo distanciar-me dos pensamentos e observa-los passearem pela minha mente.

Aula terminada, hora de regressar ao home stay para um mergulho na piscina (sim, na minha segunda casa em Ubud tenho uma piscina!). Pelo caminho, resolvi parar na loja "The Bali Street Dog Fund", uma loja no centro de Ubud que, como o próprio nome indica, tem como objectivo angariar fundos para ajudar os inúmeros caes que circulam, abandonados e perdidos, pelas ruas da ilha. A ideia era passar, me deliciar com os cachorros bébés que por la se encontram e re-partir de sorriso nos lábios para o tal mergulho na piscina.

Plano furado!!!

Assim que me aproximo da porta, vejo uma cadela ja adulta com um daqueles focinhos irresistíveis! Entrei de imediato e fiquei alguns segundos num género de ante-camara da loja, entre a porta de entrada e um portão de ferro que impede os caes de saírem para a estrada.

Olhei para a cadela, que soltou de imediato um ladrar avisando a loja de que alguém ali chegara e que se empoleirou de seguida no portão com as suas patas dianteiras para me receber.  Mal acariciei o seu focinho, percebi que havia ali um problema! Do olho direito, nem sombras e o olho esquerdo apenas ligeiramente aberto! Enquanto a cadela, ainda empoleirada no portao, me lambia carinhosamente as maos, comecei a chorar descontroladamente!

A responsável da loja, apercebendo-se do meu estado, veio abrir-me o portão e mal entrei, larguei tudo o que trazia comigo e sentei-me no chão, acariciando o bicho com as maos e as lagrimas! Chorei durante os cerca de 10 minutos que ali fiquei no chao com ela, enquanto a responsavel procurava ignorar (ou talvez respeitar!) o meu estado!

O carinho e a gentileza que ela demonstrava ao lamber-me as maos davam-me mais uma lição de amor! As lagrimas surpreendiam-me mais do que qualquer outra coisa! Foram de tal forma instantâneas, genuínas e sobretudo inexplicáveis que era como se eu e ela nos tivéssemos encontrado novamente!

Muitas perguntas me ocorreram e comecei de imediato a pensar no que seria necessário fazer para a levar comigo para casa! Dirigi-me à responsável da loja e quis perguntar-lhe qual tinha sido o problema dela, mas o inglês ja por si tarefa difícil para mim, tornou-se ainda menos compreensível com lagrimas e soluços à mistura! Por momentos, envergonhei-me do meu estado descontrolado (Entao Sofia?! Recompoe-te!! Nao é situação para tanto!) mas o sorriso compreensível da responsável tranquilizou-me.! Que é um problema de nascença, que nasceu cega de uma vista e so vê 20% da outra, mas que esta bem, que de resto, é inteligente como qualquer outro cao e que ja tem uma casa à sua espera!

"Ok!", respondi sorrindo e soluçando ao mesmo tempo. Voltei para o pé dela e acarinhei-a mais uma vez, ao que ela respondeu com mais umas quantas lambidelas!

Caramba, quantas vezes resmungamos e mal tratamos os que estao a nossa volta so porque sim?! E ali estava eu, recebendo lambidelas carinhosas, sem qualquer amargura, raiva ou ódio de uma cadela que para além de cega, havia vivido perdida e abandonada nas ruas desta cidade! Se alguém ali precisava de amor era ela... mas a verdade é que sai de la com a impressão de que eu recebera mais amor do que o que dera!

Talvez por estar longe de tudo e de todos, talvez porque nao seja simples para mim viver esta experiência, talvez por tudo isto e muitas outras razoes que ignoro, sai da loja ainda a soluçar!

Eu e os animais.... vir a Bali esta a fazer-me recordar dessa minha grande paixão! Nova questão se coloca: que fazer com tudo isto?! Nao chegara de ignorar as nossas paixões genuínas para fit-in numa sociedade que nao é feliz?!

Como diria a minha P., "Fuck, just do it!"

sábado, 7 de abril de 2012

O bichao!


Era a minha segunda manha em Ubud. Acordei cedo e a caminho da casa de banho, algo chamou a minha atençao para o teto por cima do guarda-roupa ! Como vejo mal ao longe, aproximei-me mais e meti-me até em bicos dos pés para tentar perceber o que é que ali se encontrava. Demorei alguns segundos a perceber o que era e a recuar com as maos na boca tentando abafar um grito !

Por cima do meu guarda-roupa, na mesma divisao em que durmo, um bichao enorme (tipo vespa ou abelha, que eu nao sei a diferença !) e o seu vespeiro !!! Em muitos anos de Ribatejo, eu nunca, mas NUNCA vira um bichao daquele tamanho (tem à vontade o comprimento de duas teclas e meia do teclado do computador, seja la quanto isso for em centimetros !).

Assustada, imaginando-me a ser atacada por um batalhao de bichoes daqueles a meio da minha nao-tao-tranquila noite, corri a chamar a caseira, uma amorosa balinense, para que ela me tirasse o bichao e o vespeiro dali ! Agarrei nela pela braço dizendo-lhe « Come, come, I need to show you something ! », ao mesmo tempo que gesticulava para me fazer compreender, que o balinês nao é dotado para o inglês ! Assim que entramos na divisao eu apontei-lhe de braço muito esticado e olhos arregalados : « See ? », ao que ela me responde tranquilamente com um sorriso « Oh, no problem, I clean for you ! » ! (O QUE ?!?!- pergunto-me eu. Entao e sair daqui correndo em panico, nao ?!? Entao e ir buscar o insecticida mais forte que houver por estas bandas, também nao ?!?). Achando que era demasiada descontracçao para alguém que tivesse realmente percebido a gravidade da situaçao, voltei a agarrar-lhe no braço e puxei-a, ainda que a medo, para mais perto do bichao ! Nem uma pequena sombra de terror na cara dela ; a resposta foi a mesma « I clean for you ! ».

Sai para mais um dia de passeio com a quase-certeza de que quando regressasse ao meu quarto,  o bichao e o vespeiro continuariam là, que a caseira nao havia percebido a gravidade do problema, que se calhar bichoes daqueles nao matam balinenses mas que o português nao tem as mesmas resistências…

E quando voltei, escusado sera dizer que a primeira coisa que fiz foi dirigir o meu olhar para o teto por cima do guarda-roupa ! E ufff… nada de vespeiro, nada de bichao ! Afinal ela percebera tudo ! Estes balinenses têm uma capacidade incrivel de gerir com tranquilidade situaçoes de enorme gravidade !!! Sim, eu disse « situaçoes de enorme gravidade » !!!

E o episodio poderia ter ficado por aqui. Poder podia, mas nao era a mesma coisa :)

No dia seguinta acordo e, ou por automatismo, ou porque algo chamou a minha atençao, voltei a olhar para o tecto por cima do guarda-roupa ! Nao ! NAO !!! Nada de vespeiro, é certo, mas O BICHAO ESTAVA DE VOLTA !!!

Observei-o procurando desesperadamente pelo seu vespeiro e, ainda que com algum receio de ser por vingança atacada, senti uma ligeira tristeza ao aperceber-me do que o meu medo havia provocado ! Sem dor nem pudor, eu destruira (ou pedira para destruir, o que ainda é pior !) a casa do bichao ! A CASA ! E eu, estando longe de tudo o que me é familiar, até consigo imaginar o que isso é !

Com pena do bichao, resolvi nao chamar a caseira. Na minha mente, achei que uma vez que lhe haviamos destruido a casa ali, o bichao nao sentiria confiança para voltar a construir o vespeiro no mesmo sitio ! Sei là… digo eu…

Mas o bichao teimou !!! E nestes ultimos dois dias, ele sai e entra pelas grelhas em madeira trabalhada que existem por cima do guarda-roupa, atarefado com a reconstruçao do vespeiro que, devo dizer, avança a passos largos ! À noite, dorme agarradinho à casa semi-construida, como que protegendo-a. De dia, la vai ele… de volta ao trabalho !

Confesso que tive medo que me atacasse, assim por vingança sabem ?! Dizem que as abelhas (ou serao as vespas ?! nunca sei... ) atacam quem as atacar a elas, por isso porque nao esperar o mesmo do bichao ?! Mas parece que este bichao é diferente !

Durmo descansada (ok, nunca me esqueço de baixar a mosqueteira !), faço a minha vida tranquila (ok, vou sempre dando um olhito ao bichao e fecho a porta quando vou à casa de banho, nao va o bichao aproveitar essas alturas !), mas o bichao parece nao importar-se com mais nada senao com a construçao da nova casa !

O que o medo faz à gente !!! Achei que o bicho me poderia atacar e por isso ataquei-o primeiro ! E agora, com medo que ele me ataque por vingança, eu poderia, se nao fosse uma lamecholas com os bichos todos, voltar a ataca-lo novamente ! E ao que me parece, o bichao nao esta nem ai para mim!!!

Dou por mim a fazer o paralelo com situaçoes que vivo diariamente, nao com animais, mas com pessoas ! Quantas vezes ataco porque tenho medo de ser atacada ou magoada ou traida ? Quantas vezes deixo que seja o medo a tomar as rédeas da minha conduta ? Asseguro-vos que demasiadas vezes ! E quantas vezes nao sou também agredida pelo medo que sentem os outros ? A nossa vida seria tao mais bonita se vivessemos com menos medo e com mais amor !

Hoje deixo esta casa e o bichao ! Quem me conhece acredita quando digo que sairei daqui com o bichao no coraçao, que lhe agradeço por nao ter respondido com vingança, que estou grata pela liçao de respeito e de amor ! Que no fim de contas, ele e as osgas foram as minhas companhias nesta primeira semana em Ubud e que nao tenho absolutamente nada a apontar-lhes ! Que o bichao me perdoe « porque nao sei o que faço » agindo por intermedio do medo…

O que desejo é que o medo nao se apodere de nos, que as nossas atitudes e comportamentos nao se baseiem nesse medo e que trabalhemos toda a nossa vida para substituir esse medo inconsciente por um respeito e amor totalmente conscientes!

Muitos pediram que eu enviasse « luz » de Bali. É precisamente isso que vos envio hoje ! 

Gratidao*

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ketut e a aula de Yoga


Ontem fui conhecer o Ketut Liyer !
Para os que leram o livro ou viram o filme « Eat, pray, love », Ketut Lyer é aquele velhinho desdentado que lê a mao de Elizabeth Gilbert, interpretada no filme por Julia Roberts !

Nao foi assim tao dificil encontra-lo. Ingredientes necessarios : uma bicicleta, um mapa de Ubud, um « inglês » que dê para desenrascar para ir pedindo indicaçoes pelo caminho e muita curiosidade ! Curiosidade em conhecer o verdadeiro Ketut Lyer, curiosidade em saber se ele passa realmente o dia inteiro sentado no chao de um alpendre com um lenço branco em torno da cabeça e curiosidade em saber o que é que ele teria para me dizer (sempre na esperança, confesso, de que o « fim do meu filme » "acabe" tao bem como o de Elizabeth Gilbert).



Assim que entrei, vi-o de imediato ! Pequenino, sentado de pernas cruzadas debaixo do alpendre, lenço branco em torno da cabeça e sem dentes, exactamente como no filme. Foto !



Resolvo sentar-me à sombra e reparo na linda mulher que chegara exactamente antes de mim.  Where are you from ? - pergunta-me. Portugal. You ? I'm from Iran. But I'm living in Switzerland. - responde ela. Oh, from which part of Switzerland ? German part. Oh, I’m also living on Switzerland, but in the french part ! - respondo-lhe.
-        
Com cerca de 15 pessoas à nossa frente, continuamos a conversar e eu continuei a fazer perguntas. Trabalhas na  industria fashion ??? Oh my God, I already love you !  Estavas cansada e atingiste o limite do burnout ??? Oh my God, I love you even more ! Sempre rodeada de gente, mails, telefonemas???  Are you sure you’re not me ? - tenho vontade de perguntar.

E depois falamos de livros e de autores. Louise Hay ? Echkart Tolle ? Did you read his new book ? Oh God you have to read it !!! – diz-me ela. E falamos em como, de ha 2 anos para ca, temos a impressao de que mais e mais pessoas estao a despertar e a virar-se mais para o interior delas proprias ao invés de viverem centradas no exterior !

Foram cerca de 20 minutos inspiradores e pelos quais estou extremamente grata ! De novo, a confirmaçao de que nao estou sozinha neste « despertar » e que pessoas « normais » vivem o mesmo que eu! Nao, nao sou uma freak ! Uff…

Despeço-me dela porque é a sua vez de se sentar com Ketut. Good luck ! – digo-lhe. Apos uns 20 minutos de consulta, ela vem ter comigo num misto de nervosismo e entusiamo e diz-me « He said I will be writing and publishing !! My daughter allways tells me the same, but who wants to know about my life ?!? » Respondo-lhe que me parece que ela tem algo para partilhar com os outros e aperto-lhe a mao desejando-lhe sorte. Chegou a minha vez de « enfrentar » Ketut !

Descalço os sapatos, poso a mochila no chao, e sento-me no alpendre, de pernas cruzadas, à sua frente ! Quando se vira para mim, percebo que chegou a hora e subitamente esqueço-me do que me levou até ali !

E assim ele começa. Observa-me atentamente o rosto : orelhas, sobrancelhas, olhos, nariz, queixo, labios… e vai dizendo «  Your ears make Ketut happy », « Your eyebrows make Ketut happy » and so on… De seguida, pede-me a mao esquerda e diz que vou viver até aos 100 anos, que sou « very smart » e que vou ser « very very rich » e nisto acrescenta « when you get rich, don’t forget Ketut ! » e ri-se mostrando a boca desdentada ! Diz que vê « many jobs » e que terei sucesso em qualquer um deles, que faço as coisas com paixao e que por isso, para mim, tudo tem que ser « quick, quick, quick » (esta acertou em cheio pah !). Tudo isto com muitas interrupçoes ; Ketut esta concentrado no frigorifico que acabou de ser descarregado no seu jardim, deixando em mim um nervoso miudinho « Entao mas isto é assim ? Sera que ele esta suficientemente concentrado no que me esta a dizer ? Ai ! ». Para além disso,  Ketut vai limpando a boca inumeras vezes com um pedaço de tecido para ali jogado e vai dizendo « Sorry, Ketut very tired, very old ! ». « How old are you Ketut «  - pergunto? « 99 years. Ketut very old, very tired, lost his teeths, see ? » e mostra a boca escancarada !

Pede-me para ver as minhas costas e fala uma data de coisas sobre os imensos sinais que trago  no pescoço. Apenas percebo « Very smart, very sucess(ful) ». Agora quer ver os meus joelhos e pernas. Diz que sou saudavel, que vê « no accident » mas que devo ter cuidado quando conduzo « because many accidents to be ». Ai a porra, ja estivemos a falar melhor !

« No husband ? » - pergunta-me ele. « No Ketut, no husband ! » « Boyfriend ? » « yes, boyfriend ! » « Is he good for you ? » « yes, really good Ketut ! » Diz-me que concorda comigo, mas acrescenta : « If divorce, do not sad, do not cry, you will marry again, undestrand ? » « Yes, I understand. » (WTF ?!? Mas o que é que ele me esta a dizer exactamente ?!?)

Vendo que o velhote ja me estava a despachar, resolvi « atacar » com uma pergunta. « Ketut, what about the jobs?  What will I do ? Because I can not find what I love !!!». Ele volta a pegar-me na mao esquerda, dizendo « I see writing, publishing, computor and beauty salon ». Vivo uns efemeros segundos de entusiamo até que a minha memoria a curto prazo me relembra que Ketut havia dito algo semelhante à minha « amiga » iraniana ! Sera que se trata de uma coincidência ? Que nos duas tenhamos um futuro enquanto escritoras ? é que, pelo menos no meu caso, até faz algum sentido ! Ou terei que enfrentar a dura realidade de que o Ketut nao sabe realmente do que esta a falar ?

Em jeito de despedida, Ketut diz-me « Do not cry, do not sad, you will live in harmony ! ».
 
Thank you Ketut ! – agradeço-lhe. Can I take a picture with you ? Please, please - responde-me ! Splash ! Mostro-lhe a foto no ecra da minha maquina e ele responde « Ooooh, look ! Ketut so ugly, you so pretty ! » Obrigada Ketut !!!


*
O que me levou até Ketut ? Essencialmente muita curiosidade associada ao que vira no filme e alguma (pouca !) crença de que o que ouviria me seria util. De facto nao foi util nem o sera, mas a curiosidade foi satisfeita ! Era para mim uma daquelas once in a lifetime thing e nao poderia passar por Ubud e perder esta oportunidade !

Nao pude no entanto deixar de comparar o (pouco !) sentido que as palavras de Ketut tiveram para mim com o (grande !) sentido que tiveram para Elizabeth Gilbert ! Elizabeth Gilbert encontrou Ketut durante a sua estadia em Bali por « mero acaso ». Eu, assim como a maioria das pessoas mulheres que esperaram comigo, estava ali porque havia visto o filme ou lido o livro, na esperança ou mais numa tentativa de que a minha historia fosse igual à de Elizabeth Gilbert.

Lembrei-me da Carol me escrever num mail « (…) às vezes a gente se inspira com a história dos outros e acha que a nossa pode e vai ser parecida. Minha história é minha, e a sua é sua, igualmente linda e inspiradora. » Ora nem mais ! Eu, assim como aquelas mulheres que esperavam comigo (algumas delas traziam mesmo o livro com elas !), estava à procura de « imitar » uma historia que nao é a minha. Por isso as palavras de Ketut nao me fizeram qualquer sentido !  

Pedalei de là com o sentimento de concretizaçao. Um dos meus desejos com esta minha vinda a Bali fora realizado ! Porém, uma nova liçao remoia-me no papo… estarei a seguir os meus proprios passos ou estarei apenas tentando re-construir uma historia inspiradora que nao é a minha ?! Deveria ter colocado esta questao a Ketut ! Queres ver que ainda la volto ?!?

Proxima paragem, Yoga Barn ! A minha P. sairia de là de lagrimas nos olhos ! Que coisa linda de se ver viver ! Mas isso é matéria para outro post ! A aula de yoga yin yang level 1 esperava-me !



A professora, americana residente no Japao, era mais uma das muitas mulheres magnificas que têm cruzado a minha vida ultimamente ! Que inspiraçao !!! Começou a aula com uma explicaçao, dando a entender que as posturas que iriamos realizar eram posturas de base e portanto acessiveis aos iniciados. Uma ova ! Nao houve uma postura que aguentasse até ao fim. Toda eu era dores ; maos, costas, nuca, bacia, pernas e até as visceras me doiam no final da aula ! Estive quase que para desistir…

Ali estava eu mostrando um dos meus padroes de comportamento mais enraizados : nao enfrentar, nao persistir em situaçoes de desconforto. Evitamento total! E percebi que isso acontece em diversas situaçoes da minha vida, sejam elas de caracter social, de caracter profissional ou até mesmo de caracter ludico. Evito tudo o que sao situaçoes novas, porque inevitavelmente passo por momentos de desconforto até que o desconhecido se torne conhecido e confortavel.

Ora aqui estou eu em Bali ! Mais desconhecido do que isto seria impossivel ! Se estou confortavel ? Nao ! Nao domino, nao conheço... e isso da-me uma vontade enorme de desistir, de pagar uma viagem de regresso ja amanha ! O problema é que eu nao desisto ; a minha estratégia é mais a do evitamento e como ja aqui estou, bah… c’est trop tard ! Nao ha evitamento possivel, so confrontaçao ! E so por isso, dê-me ai 10 aulas de yoga que eu pago jà… uma vez pagas, tenho que vir ! Nao ha evitamento possivel ! 

Bali, Ubud, esta-me ensinando !

Voltando à aula de yoga, foi uma autêntica catastrofe ! Eu podia estar no estudio de yoga mais lindo do mundo, eu podia olhar o verde das palmeiras, sentir o vento no meu rosto, ouvir os passaros cantando e ter a professora de yoga mais encantandora do mundo, mas minha mente nao parava e estava longe daquele lugar paradisiaco !

Tou cheia de calor. Doi-me a mao esquerda. Nao aguento esta postura. Tenho que ir aquele bar que tem ligaçao gratuita à internet. Mais posturas ? Entao mais ainda nao chega ? Hoje ele nao vai estar na net ! Talvez estejam os meus pais ! E se nao estiverem ? Ligo-lhes ou nao ? Ai, ja nao aguento os braços ! Que musica é esta ? Esta camisola nao da para estas aulas ! Mais posturas ? Entao mas isto nao é para iniciados ? Depois do bar, o que vou fazer ? Vou para casa ou fico no centro ? Ou vou a casa e depois volto para o centro ? A professora fala de inspirar prana. Eu nem sei bem o que isso é ! Enviar prana para todos os lugares do nosso corpo ? Como assim ? Sentir a energia que nos liga à terra ? Como é que faço para sentir isso ? Tenho que ir ao supermercado !... … …

Nao consegui acalmar a mente nem por um unico segundo ! Sai da aula com o corpo e a mente cansados ! Ora aqui esta algo que devo aprender… acalmar o turbilhao de pensamentos que me invadem a mente, silencia-la e assim poder desfrutar de tudo o que existe fora dela. So isso é real!

Only love is real ! E eu quero muito senti-lo !